Compreende-se que o pensamento é a totalidade composta da parte intelectual, emocional, sensorial e as reações musculares e físicas da memória. Todos estes processos ocorrem em conjunto, em um processo indissolúvel. Não podem ser tratados separadamente, pois geram fragmentação e confusão. São processos de reação da memória para cada situação real, que acaba por gerar uma nova contribuição para a memória, condicionando o próximo pensamento (BOHM, 2008, p. 63).
O pensamento é basicamente mecânico, pois se trata de uma reação da memória, ou é a repetição de alguma estrutura previamente existente trazida da memória, ou ainda é uma nova organização desta memória de forma a produzir diferentes arranjos, categorias ou idéias, que não deixam de ser essencialmente mecânicas (BOHM, 2008, p. 64).
A percepção destes pensamentos, se são adequados ou não, depende do funcionamento de uma energia que não é mecânica: a inteligência. A inteligência é capaz de perceber uma nova estrutura que não é apenas a repetição do que já é conhecido, ou que já esteja presente na memória. Por exemplo, alguém pode estar trabalhando em algum problema complexo e de repente, como um flash, ou um ato de percepção, os elementos se ajustam em uma nova ordem de forma a criar uma nova abordagem, ou uma nova forma de pensar sobre o problema. O que acontece é a percepção através da mente das relações, diferenças, separações, causas e efeitos, etc. (BOHM, 2008, p. 64).
É comum acreditar que o pensamento é uma forma de correspondência reflexiva sobre a “coisa real” (realidade), talvez como uma cópia, uma imagem, ou um tipo de mapa das coisas ou ainda uma apreensão das formas mais internas e essenciais das coisas (BOHM, 2008, p. 66). A palavra “coisa” está relaciona a várias palavras antigas, onde o significado inclui “objeto”, “ação”, “evento”, “condição”, “encontro” e tem relacionamento com palavras que significam “determinar”, “acomodar”, e talvez “tempo” ou “estação”.
Tudo indica que a palavra surgiu para indicar algo extremamente generalizado, que é transitório ou permanente, e que é limitado ou determinado por condições. Já a palavra “realidade” vem do latim res, que significa “coisa”. Por isso, para ser real, tem que ser uma “coisa”, que leva a crer que em seu significado mais antigo, deveria significar uma “coisa em geral” ou “a qualidade de ser uma coisa”. É ainda mais interessante observar que res vem do verbo reri, que significa “pensar”.
Desta maneira, é claramente implícito que o que é pensado possui existência independente do processo do pensamento, ou seja, quando se pensa em algo como uma imagem, não se cria ou se sustenta uma “coisa real”. A “coisa real” é limitada pelas condições que podem ser expressas no pensamento, que podem não corresponder à realidade absoluta. Assim fica evidente que o que é real não pode ser expresso totalmente pelo conteúdo do pensamento (BOHM, 2008, p. 67).
BOHM, David. Totalidade e a Ordem Implicada. São Paulo: Madras, 2008. 222p.
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